This content originally appeared on DEV Community and was authored by Angelo Silva
Todo projeto de software começa com uma conversa.
Uma ideia jogada na mesa, um “e se a gente criasse um app que…”.
Mas entre o entusiasmo e a entrega existe um terreno cheio de armadilhas: entender o que realmente precisa ser construído.
De Suposições a Entendimento Compartilhado
Se você já começou um projeto achando que estava com tudo sob controle, e semanas depois percebeu que entendeu tudo errado…
Bem-vindo ao clube.
Acontece com todo mundo.
No início, tudo parece claro.
Mas conforme as conversas avançam, as certezas evaporam e o que sobra são dúvidas, retrabalhos e aquela sensação de estar construindo um castelo em terreno instável.
É exatamente nesse momento que a engenharia de requisitos mostra seu verdadeiro valor.
Ela é o mapa que transforma o caos em direção.
E dentro dela existe uma etapa onde a confusão ganha forma: a elicitação.
É ali que a mágica (e às vezes o caos) acontece:
Quando ideias vagas se transformam em necessidades reais,
e o que antes era “acho que” vira “agora entendi”.
A seguir, você vai conhecer 4 técnicas essenciais de elicitação de requisitos — as mesmas usadas por grandes equipes de software, mas simples o bastante para aplicar até no seu projeto pessoal.
1.
Faça as Perguntas Certas
Toda boa elicitação começa com escuta.
Mas escutar não é o mesmo que entender.
Quantas vezes você já participou de uma reunião em que o cliente falava…
E, no fundo, parecia que todo mundo só esperava a vez de responder?
É assim que os ruídos nascem, e que projetos promissores começam a desalinhar.
A maioria dos desenvolvedores anota o que o cliente diz.
Os bons tentam entender o que ele quis dizer.
Mas os melhores vão além: investigam o que ele nem percebeu que precisava dizer.
Imagine uma cena.
Um cliente pede: “Quero um botão para exportar relatórios em PDF.”
Simples, certo?
Mas um dev curioso pergunta:
“Por que o PDF é tão importante?”
E descobre que o problema não é o formato, mas o fato de o gerente precisar imprimir os relatórios para assinar à mão.
Uma rotina que poderia ser resolvida com assinatura digital, economizando tempo e papel.
É isso que a entrevista faz quando usada do jeito certo:
transforma pedidos superficiais em insights profundos.
Perguntas como:
“Qual é o problema que você está tentando resolver?”
“O que aconteceria se essa funcionalidade não existisse?”
“Como você faz isso hoje?”
Essas perguntas abrem espaço para histórias reais.
E é nelas que moram os verdadeiros requisitos, aqueles que o cliente sente, mas não sabe explicar.
Dica prática:
Grave (com permissão) e transcreva suas entrevistas.
As palavras exatas das pessoas escondem mais do que informações, elas revelam emoções, dores e prioridades.
E é aí que nasce um software que realmente faz sentido.
2.
Veja o Que as Palavras Não Dizem
Nem sempre as pessoas conseguem explicar o que realmente fazem.
Às vezes, não é má vontade é costume. Elas já se adaptaram às falhas do sistema há tanto tempo que o problema parece parte do trabalho.
É por isso que observar pode revelar o que nenhuma entrevista mostraria.
Essa é a essência do Shadowing, ou Etnografia de Usuário: acompanhar o dia a dia real de quem vai usar o sistema.
Imagine que você está desenvolvendo um software para uma clínica.
Durante uma visita, nota que a secretária mantém um bloquinho de anotações ao lado do computador.
Ela anota nomes de pacientes, ligações perdidas, horários remarcados… tudo à mão.
Quando você pergunta o motivo, ela responde com naturalidade:
“Ah, é que o sistema demora demais pra abrir a agenda. Assim é mais rápido.”
E ali está a verdade que o briefing nunca traria.
O problema não é o sistema antigo, é o processo.
A “nova funcionalidade” que pediram talvez seja só uma tentativa de contornar essa lentidão.
Observar muda tudo.
Você começa a enxergar o que as pessoas realmente fazem, e não apenas o que dizem que fazem.
É nesse contraste que surgem os requisitos mais valiosos.
No fim das contas, os melhores insights não nascem da mesa do escritório.
3.
Quando Mentes Diferentes se Encontram
Alguns problemas não se resolvem em uma conversa a dois.
Eles se desdobram quando diferentes vozes se cruzam, cada uma enxergando o mesmo desafio sob uma luz diferente.
É aí que entram os workshops de requisitos e as sessões de brainstorming.
São como laboratórios de entendimento coletivo, onde desenvolvedores e stakeholders colocam suas perspectivas na mesa (às vezes em harmonia, às vezes em atrito).
Imagine a cena:
Uma sala (ou uma call) cheia de post-its, cafés e opiniões.
Alguém fala sobre usabilidade, outro rebate com limitações técnicas, e um terceiro lembra que o cliente final nem sabe usar o recurso anterior.
O clima é de debate, mas também de descoberta.
Porque é justamente nesse atrito construtivo que as boas ideias se pulem e os requisitos ganham corpo.
Uma técnica poderosa para guiar esse tipo de encontro é o Brainwriting.
Em vez de uma discussão caótica, cada pessoa escreve suas ideias em silêncio por alguns minutos.
Depois, o grupo lê, combina, aprimora.
Sem interrupções, sem vozes dominantes.
A criatividade flui e as perspectivas se multiplicam.
O resultado?
Um conjunto mais rico de soluções, construído de forma colaborativa.
Menos ego, mais empatia.
Menos “minha ideia”, mais “nossa visão”.
No fim, elicitar requisitos é isso:
não sobre impor respostas, mas construir entendimento (juntos).
4.
Dê Forma ao Que Ainda É Nebuloso
Nem sempre as palavras bastam.
Algumas ideias só se revelam quando ganham forma, quando deixam o plano do discurso e passam a existir, ainda que de modo imperfeito.
É aí que entra a prototipagem: a ponte entre imaginação e entendimento.
Imagine que, depois de uma longa reunião, o cliente diz:
“Acho que entendi o que você quis dizer.”
Mas você sabe, esse “acho” é perigoso.
Então, em vez de mais explicações, você abre o Figma, rabisca algumas telas e mostra um fluxo simples.
De repente, ele aponta para a tela e diz:
“Ah, é isso! Era exatamente isso que eu queria.”
E pronto! O que antes era uma abstração vira um consenso.
Um protótipo pode ser um esboço rápido no papel ou um wireframe mais elaborado.
O formato não importa tanto quanto o efeito: tornar visível o que antes era apenas imaginado.
Cada feedback nessa fase é ouro.
Porque quanto mais cedo o cliente discorda, melhor.
Cada ajuste feito agora é um bug que você não precisará corrigir depois.
Prototipar não é perder tempo.
É evitar o desperdício,
De código, de energia e de expectativa.
No fim das contas, é muito mais fácil alinhar quando todos estão olhando para o mesmo desenho, e não para interpretações diferentes de uma mesma ideia.
Todo projeto começa com um punhado de suposições.
O cliente “acha” que sabe o que quer.
O time “acha” que entendeu o que precisa ser feito.
E, no meio desse achismo mútuo, o projeto segue (até que a realidade cobra a conta).
A elicitação é o momento de quebrar esse ciclo.
É quando paramos de assumir e começamos a entender de verdade.
Não é apenas uma etapa do processo, é o instante em que o futuro do sistema começa a se definir.
Grandes sistemas não nascem de ideias geniais.
Eles nascem de grandes conversas, daquelas em que alguém faz a pergunta certa e muda o rumo de todo o projeto.
Por isso, antes de abrir o editor de código, abra o diálogo.
Converse, observe, prototipe, investigue.
Descubra o que está sendo dito e, principalmente, o que ainda não foi dito.
Cada pergunta bem feita é uma linha de código a menos desperdiçada.
E cada boa conversa é um passo a mais rumo a um produto que realmente faz sentido.
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